Definitivamente, deu a louca na literatura médica
internacional que, a cada dia, intensifica a divulgação de resultados
controversos entre diferentes estudos clínicos, promovendo intensa confusão e
uma certa insegurança mesmo em especialistas do mais alto gabarito, gerando
mais calor do que luz, mais discurso do que recurso, mais metas do que meios e
mais verbo do que verba, como diria Joelmir Beting. A situação é catastrófica e
tende a ficar cada vez pior na medida em que se agigantam as controvérsias,
inclusive em relação a conceitos básicos tradicionais da ciência médica.
Agora a controvérsia chegou aos refrigerantes dietéticos,
inicialmente considerados a “salvação da lavoura” para o paladar dos portadores
de diabetes, posteriormente considerados como fator de risco para síndrome
metabólica e diabetes tipo 2 e, mais recentemente, mostrando uma eficácia ainda
experimental no sentido de aumentar a liberação de GLP-1, nos moldes da ação
farmacológica dos inibidores da DPP-IV, também conhecidos como gliptinas. Vamos
aos fatos:
Em 2007, a revista Circulation publicou um estudo mostrando
que os indivíduos que ingeriram mais de um refrigerante dietético por dia
apresentaram um risco 44% maior de desenvolver síndrome metabólica, em
comparação com aqueles que ingeriram menos de um refrigerante dietético por
dia. Em 2008, também na Circulation, foram publicados os resultados do estudo
ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities) que mostraram que aproximadamente
40% dos participantes do estudo desenvolveu síndrome metabólica. Tem mais: você
pode não acreditar mas, as bebidas adoçadas como os sucos e os refrigerantes
não dietéticos não apresentaram uma associação forte com o aumento de risco de
síndrome metabólica nesse estudo. Um terceiro estudo, o MESA (Multi-Ethnic
Study of Atherosclerosis), publicado no Diabetes Care, em 2009, também confirmou
um risco relativo 36% superior para a síndrome metabólica e 67% superior para o
desenvolvimento de diabetes tipo 2, quando comparado com a população que não
utilizou refrigerantes dietéticos.
Com esse conjunto adverso de impactos sobre o risco de
síndrome metabólica e do próprio diabetes tipo 2, seria quase impossível
imaginar que algum estudo sobre os riscos e benefícios dos refrigerantes
dietéticos fosse indicar uma característica altamente positiva dessa bebida. Em
dezembro de 2009, no Diabetes Care, um novo estudo veio abrir uma perspectiva
de ação terapêutica dos refrigerantes dietéticos, através da estimulação da
secreção de GLP-1 decorrente, hipoteticamente, da estimulação dos receptores de
paladar doce das células L que são encontradas no revestimento interno do trato
gastrointestinal e que contêm hormônios peptídeos regulatórios e/ou aminas
biogênicas. De importância clínica mais direta, é o fato de que pequenas
quantidades de adoçantes artificiais encontrados em apenas 240 mL de um refrigerante
dietético podem desencadear um aumento de secreção de GLP-1 e promover uma ação
terapêutica inesperada até agora, apesar da natureza ainda experimental desse
achado.
Fonte: Artigo SBD - Dr. Augusto Pimazoni Netto