Se o segredo de uma vida longe de doenças é suar a camisa, os mineiros precisam repensar seus hábitos. Quase oito em cada 10 pessoas em Minas Gerais admitem não fazer exercícios físicos. Ainda há muito o que evoluir em educação: um quinto da população acima de 15 anos do estado é analfabeto. Quando o assunto é casamento, os mineiros seguem o ritual: pedem a bênção da religião e selam a união diante de um juiz. Os dados compõem a Pesquisa por Amostras de Domicílios de Minas Gerais (PAD-MG), uma radiografia inédita da população feita pela Fundação João Pinheiro (FJP), em parceria com o Banco Mundial, e obtida com exclusividade pelo Estado de Minas. Os dados traçam um triste e já conhecido retrato: o estado não conseguiu superar o abismo das desigualdades regionais e mantém no Norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri a parcela da população com pior acesso a serviços básicos.
Pela primeira vez no país, um estudo investiga tão detalhadamente a realidade de um estado, abordando por regiões aspectos como educação, saúde, saneamento, entre outros. O levantamento traz um recorte de 18 mil domicílios de 308 municípios das 11 divisões do estado. A coordenadora da PAD-MG, Nícia Raies Moreira de Souza, explica que a amostra foi definida a partir de modelos estatísticos e é um retrato "mais fiel possível" dos 17,9 milhões de mineiros. Os pesquisadores foram a campo entre junho e novembro de 2009. "O objetivo é avaliar e aprimorar políticas públicas. Os dados servirão para conhecer mais cada uma das regiões de Minas e melhorar as intervenções. É uma forma de guiar olhar para que investimentos sejam devidamente empregados", ressalta Nícia.
Ela destaca que o estudo será feito a cada dois anos e, na próxima edição, tendências envolvendo os mineiros podem começar a ser desenhadas, a partir da comparação dos dados. Com as primeiras informações em mãos, a expectativa é de que políticas públicas sejam elaboradas para que os índices da pesquisa de 2011 sejam melhores. Um exemplo de número que precisa cair, e drasticamente, na avaliação de especialistas, é de pessoas que não praticam exercícios físicos, pois 78,5% dos mineiros confessam que não se exercitam. A situação é ainda pior no Vale do Rio Doce, em que 83,6% dos moradores não são adeptos de hábitos saudáveis como fazer caminhadas. Na Grande BH, a turma do sedentarismo chega a 77,59% da população.
Academia
O técnico em informática Valmir Pimenta, de 40 anos, faz parte desse time e diz até, com certo exagero, que se considera obeso. Morador de Belo Horizonte, ele já tentou fazer academia, mas não levou o projeto adiante. “Não gosto do ambiente, que me parece puro exibicionismo. Da última vez, desisti por causa do frio. Pretendo voltar, quando o tempo ficar mais quente”, conta. Ele também está com a maioria, quando é indagado sobre a saúde. Assim como 84,6% dos homens e 80,4% das mulheres, considera a dele muito boa.
No outro extremo da estatística, entre os 2,8% das mulheres que acham a própria saúde muito ruim, a babá Danielle Cristina da Silva, de 31, percebeu que deveria adotar hábitos saudáveis e, há um ano, faz caminhadas na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de BH. “Minha tia morreu por problemas de pressão alta. Minha família tem esse histórico e, mesmo assim, meus pais e meus sete irmãos não fazem exercício. Também sofro com pressão alta e, por isso, decidi emagrecer. Em um ano, perdi 35 quilos. Minha meta é perder mais 30”, revela Danielle.
Integrante do Núcleo de Atividade Física da Secretaria de Estado de Saúde, a médica Conceição Moreira diz que os municípios devem incentivar a prática de exercício físico não apenas para grupos vulneráveis. “Tanto a falta de políticas públicas como a de articulação com outros setores podem ser responsáveis pelo aumento do sedentarismo. Os municípios ofertam ações que estimulam a atividade física, mas, na maioria das vezes, são voltadas para uma pequena parcela da população, como idosos, diabéticos e hipertensos. É necessário institucionalizar o exercício físico como política pública direcionada a toda a população”, defende, reforçando que estudos recentes apontam que o sedentarismo tem relação direta com o significativo aumento de doenças cardiovasculares – causa crescente de mortes.
Fonte: Estado de Minas 8/2010
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